Uma palavra: Obrigada!

A rotina matutina foi a de tantos outros dias: acordar, comer, treinar, comer, apanhar o metro. Chegar ao Chiado e cumprimentar o sempre simpático Fernando Pessoa. Caminhar por entre as ruas em direção à tão familiar Rua Ivens. Chegar à rádio e cumprimentar o segurança com o meu sempre sonante e sorridente “Boa Tarde Alegria”.





Quando no futuro for ao Chiado não vai ser igual... Nunca vai ser igual! As ruas vão ser as mesmas, a multidão indiferenciada continuará lá, o Pessoa não sairá do seu lugar, mas vai ser diferente. Será sempre diferente!

Tive a sorte de viver o Chiado de uma forma única. Nem todas as pessoas a têm. Não me limitei a passar por lá todos os dias. Vivi. Trabalhei. Sonhei. Ousei. E sem dar por isso, apaixonei-me de forma irremediável. Vou voltar (é claro) a este lugar nobre que tanto me deu e que tanto me fez sentir. Será sempre o meu oásis. Um dos meus sítios favoritos em toda a Lisboa. Mas vai ser sempre diferente...

Entrei na redação. Senti logo um friozinho na barriga (ia mesmo ser o último dia de trabalho na rádio que tanto me deu).

O dia passou-se como um qualquer dia de trabalho. Tive um serviço no Ministério das Finanças (o meu último a envergar o microfone da Renascença). Perdi-me no Terreiro (não dava com o raio do Ministério!). Lá me dirigi a uns "senhores agentes" que de forma amável que ensinaram o caminho (era tão mas tão fácil, só mesmo eu para me perder!). Cumpri o meu dever. Era hora de regressar.

No caminho de volta para a rádio fiz uma paragem: a Padaria Portuguesa. Tinha de levar um bolo de despedida. Um pequeno miminho, “com muito amor”.


Um dia como tantos outros mas tão diferente ao mesmo tempo. A hora de saída aproximava-se. Hoje não queria sair, não queria mesmo. A despedida custou. Não vou dizer o contrário porque não seria verdade. 

Sempre ouvi dizer que quando gostamos muito de estar num sítio, ou do que estamos a fazer, não damos pelo tempo passar. Assim foi. Este mês passou num abrir e fechar de olhos. Ainda ontem entrei pela primeira vez pelas verdes e pesadas portas da Renascença e hoje foi o dia da despedida.

Adorei cada dia, cada minuto. Adorei cada serviço, cada saída. Adorei todas as horas “loucas” a fazer notícias para o noticiário seguinte. Adorei, ou melhor adoro todas aquelas pessoas maravilhosas.

Aprendi muito, muito mesmo. Mais do que alguma vez imaginei possível. Aprendi não só a fazer o que mais amo como aprendi que é mesmo isto que quero fazer. Aprendi que o jornalismo é irremediavelmente o que quero fazer da minha vida. Aprendi que não aprendi nada nos bancos da faculdade. Aprendi que o jornalismo é muito mais do que as meras teorias que me ensinaram. Aprendi também muito sobre mim: sou muito mais desenrascada do que pensava, muito mais persistente e muito mais ousada. Aprendi a soltar-me e deixar os outros verem-me por quem sou. Quem me conhece sabe que antes de me dar a conhecer me fecho em copas. Já não sou assim. Agora sou quem sou, sem medos, sem receios nem anseios. Saio daqui, sem dúvida alguma, melhor profissional, mas também melhor pessoa. Cresci!

O dia é de tristezas mas também de alegrias. Amanhã começa uma nova fase. “SIC eu estou a chegar!”. Quem me conhece consegue imaginar o meu entusiasmo! Desde que me conheço sempre disse: um dia vocês ainda me vão ver na SIC. Desde o liceu, passando pelos anos da faculdade... e amanhã, lá estarei! Vou entrar com o pé direito (como entro e saio em tudo).

Na Renascença já me sentia em casa. Verdadeiramente! Vai deixar saudades, muitas saudades.  Um dia eu volto, eu juro que volto! É muito difícil alguém ver-se livre de mim!



Deixei-lhes uma pequena carta que partilho aqui convosco (lá ficou ela pendurada num placar, para que nunca se esqueçam de mim)


Um enorme obrigada a todos do fundo do coração. Ensinaram-me muito (e não só). Adorei (e ganhei muito) por vos ter conhecido a todos. Mas deixam-me deixar aqui um especial obrigada a umas quantas pessoas: 
Celso, obrigada por todos os conselhos, obrigada por te preocupares comigo e me dizeres para mudar de profissão (vou ser louca ao ponto de não acarretar esse conselho), obrigada por seres o “paizinho” aqui do sítio sempre preocupado com todas nós.
Ana Paula (minha linda conterrânea), obrigada pela simpatia infindável, pela tua paciência, por me mostres como o mundo é um local pequeno, por me transmitires segurança e me fazeres sentir em casa.
Zeca, obrigada por me fazeres rir tantas e tantas vezes, obrigada por me teres levado no meu primeiro serviço e pela troca de experiências.
Miguel, obrigada pelo trabalho que me deste, pelas dores de cabeça com as quais tanto aprendi, por me ensinares tanto em tão pouco tempo.
Eunice, obrigada pela simpatia e por todos os serviços que me marcaste (aprendi muito com todos eles) e já agora obrigada por todos os bolos maravilhosos que trouxeste, com os quais me deliciei.
Fátima, obrigada por tudo o que me ensinaste e pela paciência.
Ricardo, obrigada pela tua boa disposição, obrigada por me fazeres ver que enfrentar os dias cheios de positivismo e boa disposição é a melhor forma de viver.
Inês, obrigada por seres minha companheira, obrigada pelas pequenas coisas que me ensinaste, pelos conselhos, obrigada por não seres uma mera colega.
Vermelho, obrigada por me fazeres sempre rir e por tudo o que me ensinaste (e olha que não foi pouco).

Acima de tudo obrigada a todos do fundo do coração por me receberem de braços aberto, me acolherem, me ensinarem e me darem mais do que alguma vez achei que fosse possível. Sei que não vos posso retribuir tudo aquilo que me deram mas espero que saibam que estou eternamente grata.
Saio daqui não só com mais “estaleca” e conhecimento, como também saio de coração cheio, cheio de carinho.
Nunca vos vou esquecer e espero que não se esqueçam de mim. Espero que não se esqueçam da estagiária bem disposta, espevitada, curiosa, metediça, trabalhadora e esforçada que passou por esta redação. 
Um dia eu volto, eu juro que volto! Estão a ver aqueles bichinhos, as lapas? Eu sou como eles. É muito difícil verem-se livres de mim, agarro e não descolo. E quando um dia eu voltar (já estaremos todos na Buraca) vão ficar todos espantados: “Não é que o raio da garota voltou mesmo?”

Gosto muito de vocês. Beijo do tamanho do mundo.
 Marta Matos
 (a estagiária da tarde)


 

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